LINHA DE FRENTE - POR WANDER NOGUEIRA

LINHA DE FRENTE - POR WANDER NOGUEIRA

WANDER NOGUEIRA é Jurado da CNBF e AMA, oriundo do Estado do Rio de Janeiro  -  

 

Nas Bandas e Fanfarras, anteriores à década de 1950, até, especificamente, o ano de 1959, não havia a Figura da “Linha de Frente”. Já em 1959, em uma das edições do “Concurso Nacional da Rádio Record”, essa Figura se estabelece, timidamente. Isto nos remete a lançar um olhar à história. As “Linhas de Frente” ficam dispostas à frente das Bandas e Fanfarras, para apresentá-las, e identificar essas Corporações.

Assemelham-se a algumas características das tropas de guerra (tropas militares), guardas reais, e atualmente, à Comissão de Frente das Escolas de Samba de Carnaval, pois trazem consigo, além da Indumentária, os Adereços manuais como: brasões, escudos, flâmulas, bandeiras, bandeirolas, espadas, estandartes. 

No início, esses recursos manuais, seguiam os rígidos padrões de postura e regras de conduta, bem como de identificação. Já na atualidade (séculos XX e XXI), além da manutenção dos rígidos padrões iniciais, a criatividade é um ingrediente que complementa e fica a critério de juízo de gosto e de valor no processo de julgamento, nos Campeonatos. Esses Adereços e ou Alegorias, são conduzidos por grupos específicos inseridos na “Linha de Frente”. 

Há vários Regulamentos que abarcam os Campeonatos Brasileiros, dentre os quais, o Regulamento do “XIII Campeonato Nacional de Bandas e Fanfarras” (CNBF, 2005, p. 09), realizado pela “Confederação Nacional de Bandas e Fanfarras”, que determinam, em seus Artigos, normas a serem seguidas: 

Artigo 40: a “Linha de Frente” deve ser “[...] composta por escudos, estandartes, brasões da corporação, flâmulas (...) corpo coreográfico, baliza (s) e mor ou comandante”.  

Artigo 27: determina a obrigatoriedade de cada Corporação “[...] portar faixa, estandarte, ou distintivo que as identifique” (CNBF, 2005, p. 06). Esse artigo demonstra a importância da “Linha de Frente”, sendo que no Parágrafo Primeiro e Segundo do mesmo, está estabelecido que a Corporação que não respeitar a norma será penalizada pela Mesa Avaliadora dos Campeonatos. 

No Brasil, a primeira Corporação Musical a aderir à “Linha de Frente” foi a “Fanfarra do Colégio Washington Luiz”, da cidade de Mogi das Cruzes, no ano de 1959, no “Campeonato Nacional da Rádio Record”. Esse trabalho foi desenvolvido pela professora de Educação Física do colégio, e ficou muito conhecido na época pelas Alegorias que vinham à frente da Fanfarra. Era composta de dois pelotões: um pelotão masculino que conduzia o Pavilhão Nacional e a sua respectiva Guarda de Honra; e o pelotão feminino, que trazia bandeiras e flâmulas de diversos Países e 21 Estados Brasileiros. Nesse período, as “Linhas de Frente” não tinham caráter marcial, mas sim, carnavalesco, fazendo menção a tal festividade, através das cores e grandiosidade dos Adereços e Alegorias. 

O primeiro Regulamento, para julgamento de “Linhas de Frente”, surgiu na década de 1960, com a criação de duas categorias de avaliação. A primeira categoria refere-se às Alegorias (carros alegóricos utilizados durante os Concursos) e a segunda, referente às Alegorias Vivas (pessoas que portavam os Adereços), sendo que, os quesitos de Julgamento eram firmados à Estética e ao Visual do Conjunto. 

Na década de 1970, a Instituição que mereceu destaque, na categoria “Linha de Frente” foi o Colégio “Nossa Senhora da Consolata” , da capital de São Paulo, passando a ser referência para os demais Colégios, pelo primor de suas bandeiras, flâmulas, Adereços e Alegorias, vestindo uniformes luxuosos, além do número de componentes (aproximadamente 300 integrantes), número recorde para a época.

O responsável por tais inovações foi o Professor Julio César, que trouxe para a Avenida Indumentárias (uniformes) mais sofisticadas e modernas, fugindo da tendência militarista, fazendo com que as Bandas e Fanfarras obtivessem características próprias, um fator de identificação marcante. 

Segundo Corrêa (2003), em 1973, a Professora Silvia Santos da “Banda Sinfônica de Cubatão” , observou que as “Linhas de Frente” das Bandas e Fanfarras Brasileiras eram muito estáticas, realizando apenas “quincôncios” (movimentos de ordem unida sem comandos). A partir dessa constatação, a referida professora cria uma nova escola para as “Linhas de Frente”, a qual buscou desenvolver aspectos ligados à plasticidade, garbo, ritmo e seqüências coreográficas. Em uma atitude inédita, a professora busca pesquisar metodologias de ensino para as “Linhas de Frente”, ressaltando o desenvolvimento do aluno, enquanto Arte.

Outras Fanfarras destacaram-se na categoria “Linha de Frente”, na década subseqüente, como por exemplo, a “Fanfarra de Cotia”, “Fanfarra de Caieiras” , “Fanfarra de Itaquaquecetuba”  e do “Colégio Paralelo” . 

No ano de 1984, uma outra vertente surgiu nesse contexto. Os trabalhos coreográficos voltados para o cênico, predominam nessa época, e era visto como 35 um “grito de liberdade” relacionado ao fim da Ditadura. Essa vertente perde força por conta de profissionais e instrutores que não relacionavam as Peças Musicais, executadas pela Banda, com o contexto coreográfico, perdendo-se assim, o sentido de interpretação das Peças.  

Só em 1991, com a Comissão Estadual e Nacional de Representantes do Projeto de “Bandas e Fanfarras”, da Secretaria dos Negócios de Esporte e Turismo do Estado de São Paulo, formado pelos Professores Elizeu de Miranda Corrêa e Solange Dártora, cujo coordenador era o Professor Maestro Ronaldo Faleiros, deu início a algumas modificações significativas nos Regulamentos  dos Concursos. Os Eventos Regionais, Estaduais e Nacionais ditavam o estilo que deveria ser seguido pelas “Linhas de Frente” de Bandas e Fanfarras. Esse Regulamento estabelecia “Linha de Frente” como:  

[...] portadores de bandeiras, flâmulas, bandeirolas, estandartes, guardas de honra, baliza, mor, corpo coreográfico, etc... Enfim, tudo o que vem à frente do Conjunto Musical compõe a linha de frente, ressaltando que ela jamais deverá possuir um número maior de componentes que o Conjunto Musical, pois, esteticamente, não ficará bem (CORRÊA, 2003, p. 05).

Também buscava unificar os estilos para que houvesse uma forma mais coerente de julgamento. 

 Essa Norma, ainda, predomina, no entanto, o Regulamento em vigor pela “Confederação Nacional de Bandas e Fanfarras” – CNBF,  e pela “Federação de Fanfarras e Bandas do Estado de São Paulo” – FFABESP, ambos iguais, subdividem o julgamento das “Linhas de Frente” em dez quesitos: “Alinhamento”, “Criatividade”, “Evolução”, “Formação”, “Sincronismo”, “Marcha”, “Garbo”, “Uniformidade”, “Dificuldade Técnica” e “Ritmo” (CNBF, 2005).  

As “Linhas de Frente”, assim como o “Corpo Musical”, também, evoluíram, e no final da década passada, algumas modificações já puderam ser notadas. A pioneira nessa transformação foi a “Banda Marcial do Colégio Progresso” , da cidade de Guarulhos, com o seu Coreógrafo Antônio Bonvenuto Neto. 

Além, dos uniformes extremamente luxuosos, com pele de animais, novos Adereços foram incorporados nas coreografias, como: espadas e rifles (espingardas) de madeira, adaptados, para a realização de movimentos coreográficos. 

Esses novos Adereços têm origem  nas “Color Guards” Americanas (“Linhas de Frente” –, nas quais, esses materiais são utilizados nas Evoluções Coreográficas (coreografias), de maneira ousada e totalmente diferenciada. 

A ONG “Drum Corps International” – DCI compôs um Regulamento Internacional, o qual, não se obteve acesso. Entretanto, há um Regulamento Brasileiro que o segue, em parte, estabelecido pela ONG Brasil: “Drum Corps Brasil” – DCB. 

 As Color Guard serão avaliadas pela utilização de elementos, tais como, bandeiras, flâmulas, bastões, rifles e espadas, dado estabelecido pela “Drum Corps Brasil” (2006). Vale ressaltar que esses materiais foram adaptados para atender o contexto em que são utilizados.

Os rifles são confeccionados com madeiras resistentes, e as espadas com curvaturas especiais, visando à realização de movimentos expressados de variadas maneiras com elevada técnica, como: os giros e lançamentos. 

 Essa transformação ganhou força no Brasil após os “Campeonatos Sul Americano” e “Campeonato Mundial de  Marching Show Bands”, realizados, respectivamente, nos anos de 2004 e 2005. 

Nessa nova perspectiva, as “Linhas de Frente” realizam as Evoluções Coreográficas, juntamente com o “Corpo Musical”, ambos formando os quadros coreográficos, buscando sempre o melhor visual para submetê-lo ao critério de julgamento no quesito, “Aspecto Visual”. 

Segundo o Regulamento da “Drum Corps Brasil” – DCB (2006), o “Aspecto Visual” é subdividido em três quesitos: “Acessórios”, “Integração com o Grupo Musical” e “Movimentos Corporais”.