Abrindo nossa série de entrevistas a AMA, convidou o Professor Doutor JACOB CANTÃO, Professor da Escola de Música da Universidade Federal do Pará e Maestro da Banda Sinfônica da Fundação Carlos. Aos 49 anos de idade é natural de Belém, casado e se consolidou no meio acadêmico e segmento de Bandas e Fanfarras, como uma das autoridades musicais mais respeitas no Estado do Pará. Leia e comente a entrevista completa.....
AMA - QUAL SUA FORMAÇÃO MUSICAL?
DR. JACOB CANTÃO - Doutorado em música /Performance musical
AMA - O QUE O LEVOU A SEGUIR OS CAMINHOS DA MÚSICA?
DR. JACOB CANTÃO - A banda de música da Igreja, posteriormente o gosto pela Orquestra Sinfônica
e anos mais tarde o campo do ensino e pesquisa em música.
AMA - QUAL SUA VISÃO SOBRE O SEGMENTO MUSICAL BRASILEIRO EM ESPECIAL NA NOSSA REGIÃO?
DR. JACOB CANTÃO - O Pará é um Estado rico em minério, rico em material humano inclinado
as artes, neste caso a música. Como é de praxe no Brasil existem grandes investimentos em áreas lucrativas e escassos recursos de ajuda as bandas e a projetos sociais. A falta de infraestrutura e acessórios musicais nas escolas da capital e do interior do Estado é muito triste. O paraense gosta de música, gosta de tocar, mesmo com tantas adversidades existe o interesse do jovem pela banda de música, você já imaginou as escolas da rede municipal e estadual com bons equipamentos musicais, eu já, mesmo que seja em sonho.
AMA - DÊ QUE FORMA A MÚSICA PODE INFLUENCIAR NA FORMAÇÃO DE UM INDIVÍDUO?
DR. JACOB CANTÃO - O livro “Music Metter” do Educador canadense, DAVID ELLIOT tem uma citação que considero de fundamental importância para se refletir: Ele diz “A música tem muitos valores. A experiência emocional única de prazer musical e o auto-conhecimento que os acompanham, está entre os valores mais importantes de música e da educação musical”. Em outras palavras a música não é apenas um lazer ou passatempo ou uma demonstração de habilidade ou da vaidade humana, ela é essencialmente libertadora porque faz o homem conhecer suas potencialidades cognitivas e suas limitações.
AMA - NA SUA EXPERIÊNCIA MUSICAL (CLÁSSICA/ERUDITA/POPULAR) E PELAS MUITAS EXPERIÊNCIAS VIVIDAS EM TODO O ESTADO, COMO O SR. VÊ O MOVIMENTO DAS BANDAS E FANFARRAS PARAENSES?
DR. JACOB CANTÃO - Vejo que há uma tentativa de mudança. Falo tentativa porque não havia em Belém um curso regular que atendesse anualmente os regentes de banda. Agora a Universidade Através da Escola de Música e Pró-reitoria de Extensão entendeu, a importância de agregar e reconhecer essas “práticas musicais” cujo palco são as ruas, falo assim não como pejorativo mas como uma representatividade social importante. Acontece que muitos regentes não frequentam este curso, que é gratuito, e tornou-se um espaço onde os atuais 20 mestres de bandas escolares estão participando, discutindo, se organizando,
estudando e se qualificando. E os outros regentes onde estão? A escola de música está de portas abertas para atender esse novo segmento musical. O Projeto “REGÊNCIA DE BANDAS ESCOLARES E FANFARRA” é um marco no movimento de bandas escolares. Recentemente este projeto foi tema de uma comunicação oral no III Congresso Estudantil de Música da Universidade Federal do Pará. É a fanfarra invadindo outros espaços intelectuais e mostrando que existem outras formas de se fazer música de verdade.
AMA - QUAL SERIA A MANEIRA MAIS ADEQUADA DE SE PROMOVER O DESENVOLVIMENTO DESTE SEGMENTO?
DR. JACOB CANTÃO - Antes o problema do Brasil se concentrava no sistema financeiro, hoje temos muitas oportunidades que estamos deixando passar. O Brasil está investindo em Educação e em cursos profissionalizante. O segmento fanfarra não vai conseguir melhorar apenas com apoio político ou medidas isoladas de algumas entidades. Os regentes sabem desta verdade, os músicos e os diretores de escolas também. Então o que fazer? Como comentei na pergunta anterior a UFPA já está fazendo a sua parte. Porém temos uma novidade para este segmento. Recentemente foi aberto a matricula para o curso regente de bandas destinado aos alunos da rede estadual do ensino médio. Chama-se PRONATEC – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. Eu tive o privilégio de participar da equipe de formulação do MEC que implantou o curso regência de banda e regência de coro no Catálogo Nacional de Cursos técnicos, sem esse documento seria impossível termos hoje no PRONATEC o curso de regência de banda sendo ofertado pela escola e tendo a SEDUC como instituição demandante. Portanto a Educação e qualificação é o caminho mais seguro para se promover desenvolvimento.
AMA - DE QUE MANEIRA A EMUFPA ESTÁ CONTRIBUINDO COM O DESENVOLVIMENTO DA MÚSICA NO SEGMENTO DE BANDAS E FANFARRAS?
DR. JACOB CANTÃO - O que posso falar com propriedade é que o significado das ações musicais citadas anteriormente tem um alto valor. Veja, pela primeira vez eu fui responsável em colocar frente a frente um regente de orquestra e um grupo de regente de fanfarras. O Maestro da OSTP (Orquestra Sinfônica do Teatro da Paz) está conhecendo uma forma de trabalho musical que todos ouviam falar no dia da raça, porém sem muito interesse. Hoje estamos despertando o olhar dos músicos profissionais e trazendo de forma acolhedora os regentes de banda para dentro de uma escola de música. Ali é o lugar deles. Lá eles entram em contato com os professores de metais, palhetas, percussão e vamos promover palestras com coreógrafos.
AMA - QUAL ORIENTAÇÃO O SENHOR DARIA PARA AS MILHARES DE CRIANÇAS, JOVENS E ADULTOS QUE INTEGRAM ESSES PROJETOS MUSICAIS EM NOSSO ESTADO?
DR. JACOB CANTÃO - A banda escolar é apenas um detalhe de um mundo chamado educação. A música é uma das ferramentas fantásticas para auxiliar essa formação do indivíduo. Música e educação são duas palavras que se engrenam bem. Os projetos sociais estão de parabéns por entender a força da inclusão social.
AMA - QUAL SUA EXPECTATIVA COM A REALIZAÇÃO DAS FINAIS DO XX CAMPEONATO NACIONAL DE BANDAS E FANFARRAS, PELA PRIMEIRA VEZ EM NOSSA REGIÃO. QUE BENEFÍCIOS PODERÁ TRAZER TAL EVENTO E EM QUAIS ASPECTOS?
DR. JACOB CANTÃO - Qualquer evento de tamanha magnitude cria uma perspectiva muito grande e vem coroar um Estado que respira música. Do ponto de vista musical teremos um painel do mais alto nível em bandas escolares e fanfarras. Não devemos esquecer que por trás desta produção existe o estudo formal de música. Bem diferente das décadas passadas onde o voluntariado de profissionais que não conheciam música dominavam os campeonatos.
AMA - QUAL SUA OPINIÃO SOBRE O TRABALHO DESENVOLVIDO PELA AMA, EM SEUS 05 ANOS DE FUNDAÇÃO?
DR. JACOB CANTÃO - Acompanhei a realização de alguns trabalhos da AMA e vi as dificuldades de se realizar ações para trabalhar com as bandas escolares. O importante é que a maioria das atividades propostas foram realizadas, mesmo nas adversidades. Parabéns pela coragem e determinação de sustentar uma associação que visa à melhoria do segmento de bandas e fanfarras.
AMA - O SR. É UMA REFERÊNCIA PARA 10 EM CADA 10 MÚSICOS PARAENSES. DEIXE UMA MENSAGEM PARA ESSES ARTISTAS, EM ESPECIAL A REGENTES E COMPONENTES DE BANDAS E FANFARRAS.
DR. JACOB CANTÃO - Minha formação sempre foi de concertista, solista e como tal a gente só pensava no nosso nariz. O outro era apenas um apreciador da nossa arte e não precisava crescer. Com o tempo fui observando que se doar para o outro é uma sinfonia, uma sonata, um sacerdócio. Não procuro agradar ou fazer média com as pessoas, gosto sim de ter uma atitude sincera e compatível com os meus princípios, alias com os princípios que herdei do meu pai que era pescador, pescador de peixe e de homens. Homens? Sim, ele foi Pr. Da Igreja Evangélica Assembleia de Deus e me ensinou o caminho da música. A regência
é também uma questão de escolha é não de oportunidade. Se for que essa oportunidade possa se transformar em estudo disciplinado de regência.
